domingo, 22 de março de 2020

As lições não aprendidas do Passado!


Bartolomeu dias foi o primeiro Europeu a contornar o Cabo das tormentas no extremo sul da África, sua façanha abriu caminho para um ciclo novo de comércio e Navegação. Sua esquadra navegou do atlântico ao Índico mostrando ser possível chegar a Calecute - Índia por uma via marítima.
O mais curioso dessa História foi o fato que ele não terminou sua viagem até a Índia, mapeou o trajeto, elaborou mapas que posteriormente foram vitais para Vasco da Gama concluir a viagem. Você deve estar se perguntando o motivo de Bartolomeu dias não concluir ele próprio a viagem e entrar na história Portuguesa repleto de glórias e honrarias, ele deu meia volta e retornou pra casa por conta da saúde de seus tripulantes.
A tripulação da esquadra de Bartolomeu dias estava com escorbuto, moléstia causada pela falta extrema de vitamina C no organismo, em estágio avançado o indivíduo começa a sangrar pela gengiva. Se tivesse concluído sua viagem ele entraria para história em um patamar maior, porém ao invés de pensar na sua carreira ele escolheu o bem estar de seus compatriotas.
Bartolomeu dias caiu no ostracismo por anos em razão de sua missão incompleta, voltou à carga na viagem de Pedro Álvares Cabral em 1500 onde acaba morto em um naufrágio próximo ao cabo das tormentas na África do sul. Quais lições podemos tirar de sua história? Um líder não pode zombar do perigo, um líder não pode colocar seus interesses pessoais ou políticos acima da saúde de seus compatriotas, um líder deve colocar o bem estar do próximo acima de sucesso individual.
A História existe para aprendermos com os erros e acertos do passado, porém sua missão está cada vez mais difícil em uma era onde dogmas científicos são deixados de lado para satisfazer a insanidade de fanáticos.

Reflita!

Na idade média a Peste Negra matou 25 milhões de Europeus; Fanatismo religioso, ignorância popular e a falta de higiene foi a combinação explosiva responsável por dizimar cidades inteiras.A História existe para aprendermos com os erros e acertos do Passado, infelizmente alguns ignoram a sua importância.
Eu posso lhes garantir que "Fake news", sensacionalismo, inércia de autoridades, ignorância e fanáticos religiosos como alguns pastores que se negam a aceitar medidas básicas de prevenção nos levará ao caos muito em breve. Dessa vez imagino que não seremos salvos por um menestrel errante que irá nos livrar com sua flauta encantada levando o Coronavírus para longe de nossos lares!

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Guerra do Paraguai 1864 - 1870


A guerra do Paraguai foi o maior conflito armado já travado em solo latino americano, o número de soldados mortos chega à cifra de 300 mil, valor superado no continente, apenas pela guerra de secessão nos Estados unidos, onde o conflito entre o norte e o sul daquele País matou cerca de 620 mil pessoas. Como entender os motivos que levaram a tamanha carnificina é tarefa difícil, a historiografia oficial de cada nação envolvida na guerra tenta aliviar o fardo da matança generalizada buscando fatos e argumentos que possam explicar o que levou o Paraguai e seus rivais Brasil, Uruguai e a Argentina a se envolverem em uma luta tão longa e de tamanhos prejuízos. Até a década de 1980 a historiografia de cunho marxista colocava o Paraguai na posição de vítima, os textos a cerca da guerra diziam que o modelo de autonomia financeira, a introdução de indústrias de base e o baixo índice de analfabetos incomodavam os interesses britânicos no continente. O Paraguai era visto como um perigo para os interesses do imperialismo Inglês, um exemplo que não podia se disseminar, a exaltação chegou ao exagero de colocar o modelo paraguaio como exemplo de potência latino- americana. Com certeza essa análise está bem distante da verdade, o Paraguai não era esse paraíso pintado pela teoria de esquerda, tinha bons exemplos de educação e de reforma agrária que deram certo, mas longe de achar que o nosso vizinho de fronteira desfrutava de uma situação de autonomia plena. É mais fácil enquadrar a guerra do Paraguai no cenário de disputa de ordem política e econômica que a muito reinava nas fronteiras latinas, o Brasil impondo suas vontades, chegando a manipular o seu bel prazer à política Uruguaia e a Argentina que sonhava com a anexação das terras Paraguaias. A navegação na região da Bacia da Prata e as pretensões expansionistas do Presidente – Ditador Francisco Solano Lopez, também entra na lista dos possíveis fatores que ajudaram a criar o estado beligerante entre os países citados. O clima de guerra começou a se formar com o ato inesperado do presidente paraguaio Francisco Solano Lopez de mandar aprisionar o navio Brasileiro “Marquês de Olinda”, com importantes autoridades Brasileiras a bordo, inclusive o presidente da província Do mato grosso, o político Frederico carneiro de campos. As relações diplomáticas foram cortadas, o seqüestro do navio foi uma afronta que criou intensos debates no império em relação à postura a ser tomada pelo Brasil após o incidente. Não deu tempo de declarar estado de guerra, pois o Paraguai se adiantou, sob as ordens de Lopez o exército Paraguaio invade a província do mato grosso no dia 13 de dezembro de 1864. O presidente paraguaio usou de justificativa para tal ato de agressão as constantes intervenções do estado brasileiro no Uruguai, além da tese de que a região do Mato grosso é uma área de litígio, cabendo ao Paraguai a chance de reivindicar e disputar a posse da região. Estava iniciada a guerra, a invasão relâmpago das tropas paraguaias pegou os Brasileiros de surpresa, há muito tempo nosso vizinho se preparava para essa invasão, Solano Lopez desde que assumiu o poder no lugar de seu pai vinha preparando o Paraguai para uma possível guerra, técnicos estrangeiros trabalhavam no país produzindo armas e seu exército era o único permanente e realmente treinado para lutar. Alguns historiadores dizem que o exército de Solano López contava com 90 mil soldados se incluirmos os reservistas, com armas novas e modernas. No dia 29 de março de 1865, foi à vez da Argentina ser arrastada para a guerra com a invasão do seu território por tropas paraguaias, a província de corrientes foi o novo alvo da política expansionista do presidente paraguaio. O território Uruguaio também estava na lista de pretensões do Paraguai, a invasão de corrientes na Argentina era uma abertura de caminho para tal objetivo. A incapacidade do Brasil, da Argentina e Uruguai em deter o “ditador” paraguaio levou os mesmos a se unirem contra o inimigo em comum. Em maio de 1865 é criada a tríplice aliança, acordo militar que envolvia a Argentina do presidente Bartolomeu Mitre, o Uruguai de Venâncio Flores e o Império do Brasil de d. Pedro II, o comando supremo das forças no início ficou a cabo do presidente Argentino. Despreparado e desorganizado o exército aliado não conseguia reunir forças para expulsar o Paraguai que no instante inicial da guerra ocupava solidamente vários territórios que pertenciam aos países da tríplice aliança. A primeira grande vitória dos aliados se deu em junho de 1865 na lendária batalha naval de Riachuelo onde o Brasil destruiu parte da frota paraguaia. A guerra parecia estática, Solano Lopez foi competente ao criar um cinturão de defesa que protegia o seu país, uma linha tão sólida que até meados de 1866 a tríplice aliança parecia não achar um caminho capaz de levá-los a vitória final. A virada na guerra se deu com a chegada de Luís Alves de lima e silva, o Marquês de Caxias recebeu a incumbência de assumir o comando supremo das operações da tríplice aliança, a sua habilidade militar e a imensa capacidade de organização foi de fundamental importância na reestruturação das tropas e na posterior vitória dos aliados. No dia 28 de julho de 1868 as tropas sob seu comando vencem a batalha de Humaitá, caia por terra a principal linha de defesa dos paraguaios. A capital assunção caiu nas mãos de Caxias no dia 1 de janeiro de 1869, com o trabalho realizado e a sensação de dever cumprido o mesmo se afasta da frente de combate entregando o comando ao genro de D. Pedro II, O conde D´eu. Restava ainda a tarefa de vencer os últimos focos de luta, e capturar o grande causador do conflito na visão dos aliados – o presidente Francisco Solano López. Não foram poucos os casos de abuso e sadismo atribuídos a liderança do genro de D. Pedro II, o Paraguai ficou totalmente destruído e milhares de jovens e idosos não foram poupados da Fúria do Exército Brasileiro. Solano López tentou se refugiar na região das cordilheiras em cerro León, mas com a derrota das suas últimas tropas na batalha de CERRO CORÁ, não tinha mais como se esconder. O presidente – ditador do Paraguai terminou seus dias de glória com uma lança que transpassou seu corpo, ela teria sido atirada pelo cabo do exército brasileiro conhecido por “Chico Diabo”, um tiro foi o golpe de misericórdia de sua vida atribulada. A guerra do Paraguai teve um saldo negativo para todos os envolvidos, inclusive para os vitoriosos da tríplice aliança. O Paraguai segundo a maioria das fontes teria perdido cerca de 70% de sua população economicamente ativa, sua indústria que outrora era motivo de orgulho estava ao final da guerra completamente destruída, suas perdas matérias e humanas foram tão grandes que ainda hoje elas são utilizadas no País para explicar a origem de sua pobreza. No esforço de guerra para vencer o Paraguai os países da tríplice aliança acumularam dívidas volumosas com uma série de bancos londrinos, a dívida brasileira se sobressaia, os gastos no conflito atingiram o dobro da receita do império. Para o imperador D. Pedro II a guerra do Paraguai foi o inicio da crise que levou sua monarquia ao fim, o exército brasileiro voltou da frente de batalha reformulado, enquanto instituição se profissionalizou e no campo das ideias aderiu ao republicanismo e a causa abolicionista. No próximo capítulo vamos percorrer os episódios finais do segundo reinado, analisar os fatores que derrubaram a última monarquia ainda em vigor em solo americano.

Segundo reinado (1840 -1889)


No advento do segundo reinado, mas especificamente na primeira fase (1840-1864) o novo imperador teve que lidar com problemas de política interna, questões de diplomacia, pacificar o País e ainda retirar o Brasil da crise econômica que se encontrava desde o primeiro reinado. Os dilemas eram complexos para um governante tão novo, e que herdara um País repleto de conflitos de toda ordem, porém é importante frisar que o imperador soube lidar com o jogo político que se configurava diante dele e manteve o Brasil sob relativa calmaria até a eclosão da guerra do Paraguai. O imperador teve de gerenciar uma disputa política que causava certa turbulência, logo após a sua posse, os partidos liberais e conservador se digladiavam pela atenção do monarca e logicamente por cargos de comando em seu governo. O partido liberal era composto por membros da “classe Média urbana”, profissionais liberais, comerciantes e intelectuais na época intitulados “Luzias”. Os conservadores eram formados por integrantes da elite latifundiária Brasileira e escravista, conhecida pelo nome de “Saquaremas”. Apesar da suposta rivalidade entre eles, liberais e conservadores possuíam mais características em comum do que antagonismos, por pertencerem à elite brasileira ambos estavam interessados em manter os privilégios conquistados, em suma podemos dizer que eram “farinha do mesmo saco”. O primeiro gabinete formado por D. Pedro II era liberal, o chamado gabinete dos “Irmãos”, era controlado pelos Andradas e Cavalcanti, mas em pouco tempo os conservadores ganham espaço perante o imperador, promovendo o afastamento dos liberais e a criação de Leis centralizadoras. Por conta desse isolamento político e exclusão do círculo de poder os liberais promovem revoltas, São Paulo sob a liderança do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e Minas Gerais com o Político Teófilo Ottoni a frente da Causa Liberal. Esses levantes promovidos pelo ressentimento dos liberais com o imperador em 1842 deixou claro para D. Pedro II que manter as disputas políticas sob controle não seria nada fácil, com a criação do chamado gabinete da conciliação o monarca enfim consegue colocar um cabresto nos embates entre liberais e conservadores. Em 1847 o monarca implanta o regime Parlamentarista no Brasil, aqui tal sistema foi chamado de “Parlamentarismo às avessas”, por conta da comparação inevitável com o sistema Britânico. Na Inglaterra o parlamento acumula mais funções e poderes em relação à monarquia, no Brasil ao contrário do que ocorria no Reino Unido era o Monarca a autoridade do País, controlando a chefia do conselho de ministros e com as prerrogativas do poder moderador ficava fácil para Imperador manter as instituições e decisões políticas sob controle. No campo dos problemas internos causados pelas inúmeras revoltas desencadeadas no período regencial, a revolução farroupilha foi uma herança dessa fase complicada e que acabou adentrando no segundo reinado, coube ao monarca por um ponto final nessa história e reintegrar os gaúchos a nação. A região sul do Brasil era de fundamental importância para a economia do império por conta da produção de charque, para as finanças do país era clara a necessidade de acabar com o clima belicoso que a muito tomava os “Espíritos” da região com idéias separatistas. Com vistas a botar um ponto final no conflito o monarca nomeia Caxias comandante de armas com a tarefa de acabar com a farroupilha, após uma série de batalhas na região o conflito se encerra em condições honrosas para os Gaúchos. Um problema sério terminava, porém em 1848 uma nova revolta nascia trazendo de volta o fantasma da insurreição popular. A chamada revolução Praieira começou na província de Pernambuco, ganhou esse nome por conta de um grupo político conhecido por “A Praia” que se reunia na rua da praia na sede do jornal “diário novo” em recife. Entre as causas do movimento estava a revolta popular em relação aos abusos de poder da família Cavalcanti que controlava a região como um curral político. Também está nas causas do movimento um forte sentimento anti-lusitano, em virtude do monopólio exercido pelos Portugueses no comércio Varejista da região. A revolta contava com a liderança de Nunes machado, Pedro Ivo e Borges da Fonseca, homens que na essência não toleravam mais os abusos cometidos na região e a inércia da monarquia Brasileira de resolver ou simplesmente amenizar o sofrimento do povo nordestino. O estopim do conflito foi à destituição do presidente da província de Pernambuco, o político liberal Chichorro da Gama, os rebeldes enfrentaram as forças legalistas por cinco meses, mas a desproporção de forças levou a derrota dos Praieiros. A Pacificação da região esteve a cabo de Vieira Tosta, enviado com plenos poderes para por um fim na revolução Praieira. Logo abaixo está o documento intitulado Manifesto ao Mundo de autoria de Borges da Fonseca, líder dos Praieiros, ele serve para ilustrar as reivindicações do movimento:


                           MANIFESTO AO MUNDO                               
                              Por:  Borges da Fonseca                                                                       
Voto livre e universal
Liberdade total de Imprensa
Direito ao trabalho
Inteira e efetiva autonomia dos poderes constituídos
Nacionalização do comércio varejista
Adoção do federalismo
Reforma do Poder judiciário
Extinção dos Juros
Abolição do sistema de recrutamento
Abolição do poder moderador
Supressão da vitaliciedade do senado
Expulsão dos Portugueses    
                                              
Com a derrota da Praieira o império desfrutou de relativa paz no plano interno sem nenhum movimento armado de grande expressão como aqueles vividos no período regencial (1831-1840). Porém no plano externo o Brasil e o Imperador D. Pedro II enfrentaram um sério atrito diplomático que deixou a nossa nação em pé de guerra com a Inglaterra, a chamada questão Christie. Tudo começou com as constantes intervenções Britânicas nos assuntos brasileiros desde a época da independência (1822). Os interesses comerciais dos Ingleses entraram em rota de colisão com o tráfico e escravidão praticados pelo império brasileiro. A raiz das hostilidades está na posição Brasileira de manter a escravidão como regime de trabalho no País, contrariando as novas diretrizes abolicionistas dos Britânicos. A tarifa Alves branco que suspendeu todos os benefícios e privilégios que os comerciantes ingleses desfrutavam no Brasil só serviu para acirrar ainda mais os ânimos entre as duas nações. A vingança veio com a aprovação da lei BILL ABERDEEN pelo parlamento britânico que previa o aprisionamento de barcos que traficavam escravos e dava direito à marinha inglesa de afundar em casos extremos os navios Tumbeiros que reagissem à prisão. A Pressão Britânica foi tão grande que o imperador D. Pedro II se viu obrigado a engolir a Lei Eusébio de queirós (1850) que extinguiu o tráfico de escravos para o Brasil. A Gota d’água nessa relação problemática foi a justamente a questão Christie (1861-1865). A origem desse entrevero diplomático foi o naufrágio e posterior pilhagem do navio Britânico “Príncipe de Gales” no Rio grande do Sul. Indignado com o fato o embaixador Britânico no Brasil William Christie exigiu das autoridades competentes uma indenização por conta dos prejuízos causados. A recusa do governo Brasileiro em arcar com os danos causados deixou o representante Inglês em estado de fúria, colocando as relações entre os dois Países em maus lençóis. Para colocar mais lenha na fogueira no dia 17 de julho de 1862, três oficiais da marinha Inglesa causaram muita baderna e confusão no Rio de Janeiro. Com gestos obscenos praticados nas ruas cariocas e uma briga com integrantes de um posto policial levou os marinheiros para cadeia. Em um caso aparentemente simples, o embaixador William Christie causou uma tempestade em copo d’água, o mesmo exigiu uma enorme retração por parte do Governo brasileiro. Pediu a demissão dos oficiais do posto militar envolvidos na briga, punição para os soldados, punição para o chefe de Polícia do Rio de Janeiro e ainda um pedido de desculpas oficiais. Se o imperador tivesse cedido as exigências do embaixador Inglês com certeza estaria desmoralizado perante o povo Brasileiro e sua posição enfraquecida perante os políticos de tendência anti-Britânica, que, diga-se de passagem, não eram poucos. Sereno e absoluto de suas atitudes mais uma vez o monarca brasileiro não se rendeu ao Egocentrismo de William Christie, se negando terminantemente a aceitar as exigências da diplomacia Britânica no Brasil. Como represália a negativa brasileira em atender suas ordens o embaixador Inglês ordenou a prisão de dezenas de embarcações Brasileiras que partiam do Rio de janeiro, entre 31 de dezembro de 1862 e 3 de janeiro de 1863 a marinha real britânica aprisionou de maneira arbitrária uma frota mercantil que nada tinha a ver com os problemas de ordem diplomática causado por autoridades políticas. A queda de braço entre D. Pedro II e William Christie levou a um rompimento de relações diplomáticas que durou até meados de 1865. O saldo final foi um julgamento em tribunal neutro na Bélgica, onde o Brasil se viu obrigado a pagar o valor pedido por conta do saque ao navio “Príncipe de Gales”, a Inglaterra teve que devolver as embarcações Brasileiras e o embaixador William Christie se viu obrigado a pedir desculpas ao governo Brasileiro botando um ponto final na questão. No plano econômico o Império viu nascer o cultivo em larga escala do café, e por volta de 1840 o produto já ocupava lugar de destaque na pauta de exportação do Brasil. Os primeiros cafezais cultivados em larga escala com fins de exportação foram no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba (SP). Porém o grande apogeu no cultivo do Café foi o Oeste Paulista, novas técnicas de cultivo e experiências na questão da mão de obra fizeram da região um grande pólo produtor tendo como centro as cidades de limeira, Jundiaí, Itu, Campinas e Sorocaba. A economia cafeeira manteve a estrutura do grande latifúndio com mão de obra escrava até o advento da imigração Italiana, intensificada com a lei Eusébio de queirós que extinguiu o tráfico negreiro. O café foi o “Ouro Verde” que ajudou a amenizar a crise econômica que se arrastava desde o primeiro reinado (1822-1831), mas não alterou a estrutura agrícola que reinava no País há séculos, nessa primeira fase do segundo reinado o Brasil manteve-se atrelado a tradição de economia vinculada às atividades do campo. Apesar do novo vigor à cambaleante economia Brasileira, o Café não foi capaz de salvar o País da eterna dependência do mercado estrangeiro e empréstimos externos. O modelo de grandes latifúndios, com mão de obra escrava e monocultura de um produto em larga escala foi mantido de maneira inalterada, ao menos uma voz destoava na multidão, um Homem que sonhava com uma Nação moderna, industrial e sem escravos; o Barão e Visconde de Mauá. Irineu evangelista de Sousa nasceu em Arroio grande, então distrito de Jaguarão, Rio grande do sul, no dia 28 de dezembro de 1813. Sua Infância marcada pela perda do Pai e o abandono precoce por parte de sua Mãe que ao se casar novamente enviou o menino para o rio de janeiro na companhia de um tio. O garoto que aos 11 anos trabalhava como balconista vai se transformar no intervalo de três décadas em um dos homens mais ricos do mundo no século XIX graças a seu trabalho duro e visão de futuro. Em 1846, Mauá inaugura um Estaleiro na cidade de Niterói no Rio de Janeiro que possuía mais de Mil empregados, trabalhando na produção de Navios, Caldeiras para Máquinas a vapor, prensas mecânicas e Armas. No ano de 1852, ele inaugura a primeira ferrovia a vapor do Brasil ligando a cidade do Rio de Janeiro a Petrópolis. Fundou a companhia de gás para iluminação do rio de janeiro em 1854 e também foi o responsável pela instalação dos cabos submarinos telegráficos que ligavam o Brasil a Europa. Dinâmico, os negócios do Barão envolviam ainda a posse de várias fazendas com gado de corte, bancos no Brasil e países da América do sul. Ao todo Mauá possuía 17 empresas em seis países, sua fortuna em 1867 chegava à cifra de 115 mil contos de réis, em uma época onde o orçamento do império brasileiro era de 97 mil contos de réis. O Barão de Mauá acabou na falência em virtude dos vários inimigos que acumulou durante a vida, o fato de ser liberal e abolicionista acrescentou até mesmo o próprio imperador na sua longa lista de desafetos. Em 1875 o Banco Mauá vai a falência dando um duro golpe em suas finanças, mesmo falido vendou grande parte de tudo que tinha pagando posteriormente todos que haviam investido dinheiro em seus empreendimentos. Um “Gênio Capitalista” a frente de seu tempo e que foi derrotado justamente pelos costumes conservadores de sua época. Mauá faleceu no dia 21 de outubro de 1889, na cidade de Petrópolis, como consolo ele pode assistir a abolição da escravidão, um sonho antigo que se realizava. No próximo capítulo vamos percorrer um assunto trágico da nossa história no século XIX, a Guerra do Paraguai, conflito que mudou a estrutura do País e que levou a monarquia a suspiros finais até a queda inevitável em 1889.        





O Término do período regencial e a ascensão de D. Pedro II

Como podem perceber governar o Brasil nessa fase de transição entre os monarcas da família de Bragança não foi nada fácil, as regências que na sua gênese possuíam uma composição política heterogênea não souberam lidar com tantos problemas de ordem social e administrativa. Os gastos nos cofres públicos eram enormes para dar conta de tantas revoltas e movimentos armados que em muito se aproveitaram das incertezas e incapacidades dos regentes que estavam no comando da nação. O futuro era nebuloso e o trono de D. Pedro II esteve por diversas vezes ameaçado pela onda e o clamor republicano que permeou a maioria dos movimentos de contestação social desse conturbado período regencial. A regência de provisória virou permanente e por sua vez una com os governos de Feijó e Araújo Lima, mesmo assim nada parecia ser capaz de conter a onda revolucionária. É nesse contexto de insegurança e de ameaça real de fragmentação territorial que o Partido Liberal começa articular o golpe que empossaria o herdeiro do trono brasileiro antes mesmo de sua maioridade. A estratégia previa uma ampla campanha de massa liderada pelos liberais para que o senado aprovasse a antecipação da maioridade de D. Pedro II, a manobra política teve sucesso e o garoto com apenas 14 anos de idade pode assumir o império brasileiro sacramentando o término do período regencial. O dia 23 de julho de 1840 selou um período extremamente problemático, a regência foi marcada desde o início por fortes pressões populares que cobravam uma administração menos opressora e fiscalista, as revoltas dessa fase transformaram o País em um palco de guerra, antecipar a posse do herdeiro do trono dos Bragança fazia parte da estratégia de contenção desses movimentos sociais. Tamanhas esperanças foram depositadas na figura de poder e respeito que emana do regime monárquico, apesar de algumas revoltas levantarem à bandeira republicana a grande maioria da população depositava em D. Pedro II a confiança de que seu sangue brasileiro falaria mais alto na tomada de decisões a favor do povo. O documento histórico que anunciava ao povo o término do período regencial assim proclamava em tom poético:   
                                   Brasileiros!
“A Assembleia Geral Legislativa do Brasil, reconhecendo o feliz desenvolvimento intelectual de S.M.I. o Senhor D. Pedro II, com que a Divina Providência favoreceu o Império de Santa Cruz; reconhecendo igualmente os males inerentes a governos excepcionais, e presenciando o desejo unânime do povo desta capital; convencida de que com este desejo está de acordo o de todo o Império, para conferir-se ao mesmo Augusto Senhor o exercício dos poderes que, pela Constituição lhe competem, houve por bem, por tão ponderosos motivos, declará-lo em maioridade, para o efeito de entrar imediatamente no pleno exercício desses poderes, como Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Brasileiros! Estão convertidas em realidades as esperanças da Nação; uma nova era apontou; seja ela de união e prosperidade. Sejamos nós dignos de tão grandioso benefício”.
Paço da Assembleia Geral, 23 de julho de 1840     
(Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)
No capítulo seguinte vamos dar continuidade à trajetória imperial no Brasil destacando as principais passagens do longo reinado de D. Pedro II, cronologicamente o segundo reinado durou de 1840 com o golpe da maioridade, até 15 de novembro de 1889, quando o marechal Deodoro proclama a república. Cinco décadas onde o Brasil viveu grandes mudanças, do advento do café como principal fonte de recursos a participação na guerra do Paraguai, te convido a visitar essas páginas finais da monarquia tropical brasileira.

Rebeliões do Período Regencial

As contradições do período regencial pode ser uma das chaves para desvendar o porquê das revoltas e de tanta violência desencadeada no período entre a saída de D. Pedro I e a posse do filho ainda menor de idade em 1840. Uma década marcada por levantes que mataram milhares de pessoas de ambos os lados da lei, “Guerras civis” que dizimaram a vida de brasileiros que se sentiam órfãos de comando e desterrados no seu próprio país. A independência do Brasil não significou uma ruptura com as antigas estruturas agrárias e escravocratas, para os negros a liberdade da antiga colônia não se estendeu a eles, os brasileiros que a muito conviviam com o trabalho nas grandes lavouras também não foram beneficiados com a ruptura política em relação à metrópole Portugal, continuavam a viver a margem de grandes latifúndios que pertenciam a poucos homens apaniguados. O comércio continuou durante todo o primeiro reinado e período regencial controlados por uma casta de privilegiados Portugueses que monopolizavam o ramo varejista além de só empregar familiares recém chegados da Europa, por conta de tais privilégios uma onda de sentimento Antilusitano vai tomar as ruas de várias cidades e províncias do País. A miséria e o isolamento econômico de áreas do nordeste em relação às decisões e investimentos que privilegiavam a região sudeste serão outros fortes argumentos utilizados pela população para tramar contra a regência e levantar aos quatros cantos ideias republicanas. A cabanagem revolta de cunho popular eclodiu na província do Grão-Pará em 1835, a região já vivia um cenário de intranqüilidade política desde a época da independência onde surgiu um forte sentimento de aversão ao poder central em razão dos abusos cometidos na consolidação da emancipação do Brasil na província, o almirante Grenfell com certeza não deixou saudades na região após os trabalhos que o mesmo prestou na pacificação local a serviço de D. Pedro I. O fato é que a independência do Brasil não melhorou em nada a vida de milhares de camponeses pobres da região que habitavam cabanas simples e precárias nas margens de rios que cortam a província, o nome cabanagem foi extraído das características dessas humildes moradias dos cabanos paraenses. Os cabanos organizados sob as lideranças de Clemente Malcher, irmãos vinagre, Ferreira lavor e Eduardo Angelim derrubam as autoridades de Belém e nomeiam um governo na figura de Malcher, porém o mesmo acaba destituído e substituído por Francisco vinagre. O movimento entra em uma gangorra política no momento que suas lideranças começam a brigar pelo poder, prova disso é que Antônio vinagre vira oposição de seu irmão Francisco em razão do mesmo tentar uma conciliação com o governo regencial. Depois de algumas derrotas para o governo regencial que chegou a empregar mercenários no combate aos cabanos, os revolucionários tomam o poder novamente e Eduardo Angelim é feito líder do movimento. Porém o governo cabano terá uma vida efêmera, pois em abril de 1836 o governo regencial envia uma força de repressão juntamente com o novo presidente da província do Pará o brigadeiro Francisco José de Souza Andréia, que perseguiu sem dó os revoltosos pacificando a província. O saldo da cabanagem deixou a triste cifra de 30 mil pessoas mortas, porém é a única revolta onde podemos dizer que camadas populares estiveram à frente do poder, mesmo que em um curto espaço de tempo. Na Bahia em 1835 temos a chamada revolta dos Malês, Negros de religião e cultura muçulmana que lutou contra a imposição da fé católica e proibição da capoeira, ambicionavam o apoio de outros negros escravos na luta contra a escravidão. O movimento teve vida Efêmera, a guarda nacional agiu rapidamente prendendo os negros insurgentes. Salvador foi o palco de uma nova revolta que pretendia por em xeque o poder regencial, a Sabinada que durou de 1837 a 1838. O levante pretendia separar a província da Bahia até a maioridade de D. Pedro II, a classe média Baiana tinha na figura do médico Sabino Álvares da rocha vieira a liderança e inspiração para o movimento. A república Bahiense existiria somente até o momento que o imperador D. Pedro II, herdeiro legal do trono viesse a ocupar o cargo deixado por seu Pai, a sabinada nutria um forte sentimento de aversão em relação à administração dos regentes, sendo essa questão de fundamental importância para o acirramento dos ânimos da população baiana. Com a forte repressão centenas de pessoas morreram, outros milhares de revoltosos acabaram presos e até o doutor Sabino acabou condenado ao desterro na província do Mato grosso. A Balaiada que tomou conta da província do maranhão de 1838 a 1841 é outro movimento de caráter social e popular que surgiu no período regencial, porém é difícil delimitar as suas causas e bandeiras em razão das várias questões de ordem política e social que existiam na província. A balaiada tem seu nome inspirado no Balaio cesto artesanal característico da região, uma fonte de renda para os artesãos que viviam na província, o movimento contava com a participação também de negros quilombolas e vaqueiros pobres da região. O forte sentimento de exclusão social é usado como argumento para reunir artesãos, escravos e vaqueiros em um movimento de forte apego popular, mas sem organização e uma bandeira pela qual lutar, a causa dos balaios acabou classificada como banditismo social. Sob a liderança de Francisco dos anjos, Raimundo Gomes e o líder quilombola Nêgo Cosme os balaios impuseram o terror na província promovendo saques a cidades, comércios que geralmente pertenciam a portugueses e fazendas. O espírito arruaceiro por parte das lideranças e até desavenças entre eles acabaram por enfraquecer os Balaios, a revolta foi desarticulada pela forte repressão liderada pelo presidente da província o coronel Luís Alves de lima e Silva. A última revolta do período, a revolução Farroupilha, foi a mais duradora em razão dos vastos recursos que a elite gaúcha dispunha para manter uma guerra de longo prazo, os farroupilhas depuseram as armas somente no segundo reinado com D. Pedro II a frente do Estado nacional brasileiro. O Rio grande do sul era uma região que vivia quase que exclusivamente da criação do gado para a produção do valioso charque. A raiz da revolta está nos pesados tributos cobrados pelo governo regencial nos produtos da atividade pecuária, atingindo diretamente os fazendeiros sulistas, o aumento no imposto cobrado no sal vai ser a gota d’água na paciência dos gaúchos. Para acirrar ainda mais os ânimos o governo regencial permitiu a entrada de charque produzido na argentina e Uruguai no mercado Brasileiro com baixas tarifas impedindo que a carne gaúcha competisse em pé de igualdade. Também não se pode descartar a tradição de ideias republicanas características de uma região com forte presença de imigrantes, os abusos do poder central e a excessiva centralização do poder são as causas que levaram os gaúchos a lutar pela separação territorial. Sob a liderança do rico fazendeiro Bento Gonçalves os farroupilhas proclamaram em 1836 à República Rio-Grandense, inspirados no feito dos gaúchos, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro que também lideravam o movimento, em uma ação militar eles ocupam a cidade de laguna em Santa Catarina e proclamam a república Juliana no ano de 1838. A revolta só foi controlada em meados de 1845 já no segundo reinado, o levante de cunho separatista incomodava o imperador que temia pelo exemplo dos farroupilhas, e para evitar que novas revoltas simpatizassem com a causa dos gaúchos, D. Pedro II nomeia o prestigiado Caxias para acabar de uma vez por todas com o movimento. Após uma série de batalhas os farroupilhas depõem as armas mediante uma proposta de rendição honrosa por parte do governo imperial.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Um novo olhar sobre a guerra do Paraguai


Historicamente podemos definir a Guerra do Paraguai como sendo um conflito internacional que envolveu os Países da bacia da Prata entre os anos de 1864 a 1870. Interesses Geopolíticos, territoriais e de Política interna do Uruguai são citados pela maioria dos Historiadores latinos como os fatores que opuseram o império do Brasil e seus aliados Argentinos e uruguaios em um conflito armado contra o regime do Ditador Paraguaio Francisco Solano López.                                                           Os novos escritos sobre a Guerra do Paraguai nos últimos anos vem trabalhando no sentido de derrubar as antigas vertentes da esquerda latina que afirmavam ser a guerra um enorme jogo de interesses econômicos manipulado pelos Britânicos. Nos anos 80 a esquerda era marcante nos círculos universitários acadêmicos, era contexto de Guerra Fria e vivíamos sob a tutela de Ditaduras militares que controlavam o Cone sul, a Guerra do Paraguai nesse cenário foi utilizada para justificativa da polarização ideológica em voga na época. Segundo os Historiadores dessa corrente de pensamento o Paraguai era um “Oásis” de autonomia e prosperidade social, quase como uma experiência pré – socialista em meio ao imperialismo Britânico representado pelo Império do Brasil. Um modelo de política que não poderia contaminar o restante da América do Sul, A guerra foi vista como o meio necessário de acabar com o exemplo independência do Paraguai. 
          Essa linha interpretativa que sofre com falta de provas e documentos que confirmem tal tese, segue a teoria de Marx sobre a dialética, uma linha criada a partir do conceito de lutas de classes, opressores e oprimidos. Na América Latina os Historiadores Leon Pómer e Júlio José chiavenatto são os principais expoentes dessa linha de interpretação que culpa a Inglaterra pela eclosão da Guerra do Paraguai. Apesar de não serem acadêmicos no sentido literal do termo seus livros já foram reeditados por dezenas de vezes e as teses levantadas por ambos continuam a ser ensinadas nos bancos escolares, porém os novos estudos comprovam as inverdades propagadas ao longo das últimas décadas.Vejamos as versões apresentadas por ambos como justificativa para a eclosão da Guerra do Paraguai.
         No livro “Nossa Guerra contra esse Soldado”, publicado em versão contemporânea pela editora História popular Leon Pómer afirma:
“Tal é o Paraguai aos olhos da burguesia Inglesa e de outras burguesias Europeias altamente desenvolvidas, e tal se torna logo aos olhos de alguns cavalheiros que na Prata e no Brasil traficam e comercializam com as potências de ultramar, sem se preocuparem com outra coisa a não ser seus mesquinhos e restritos interesses de classe”
                                                      (Pómer, 2001, p. 12)
         Na visão do Historiador Argentino, famoso e respeitado em seu País, a Guerra do Paraguai teria sido fruto dos Interesses Brasileiros, Ingleses e Argentinos na destruição do Governo Solano López no Paraguai que naquele momento promovia sérias reformas sociais em seu País. Ao longo do livro Pomér cita como justificativa a intervenção do Brasil e Argentina na Política interna do Uruguai em favor dos Colorados como prova de que ambos na manutenção de seus interesses promoviam uma política imperialista apoiada pela Inglaterra para manter sobre controle a Bacia da Prata. Nessa linha de raciocínio Solano López era um “Mártir” que lutava contra a opressão dos vizinhos gigantes. Enfático na tese dos interesses britânicos como causadores da Guerra Pómer Afirma que o Brasil não teria como vencer o Paraguai que na sua visão era uma “potência” sem a providencial ajuda das libras esterlinas dos ingleses:
“O Brasil não podia partir para a guerra, se ele não tivesse cometido a loucura de lançar-se nesta aventura apenas com seus limitados recursos”
                                                       (Pómer, 2001; p. 24)

            Insistindo na suposta Vantagem do Paraguai em relação ao Brasil ele diz:
“Não seria difícil prever que a Guerra terminaria muito antes e certamente não com a derrota do Paraguai”
                                                       (Pómer, 2001, p. 24)
            Vimos nesse mesmo artigo científico que tais afirmações são inverídicas baseados nos levantamentos de Doratioto, pois os dados comprovam que o Brasil custeou a Guerra com base no Erário público, a guerra, portanto foi paga pelos Brasileiros, essa visão do financiamento Inglês não se sustenta a luz dos fatos.                      
            Em suma para Leon Pomér as causas da Guerra são resumidas em afirmações quase fictícias, que insistem em culpar a Inglaterra por um conflito que a nova historiografia vem demonstrando ser culpa exclusiva de assuntos latino – Americanos:
“A Guerra do Paraguai foi uma grande catástrofe. De qualquer forma, ela constitui uma das muitas em que podemos detectar a mão velada do Capitalismo central, mão essa que sem dúvida se faz presente, sempre que se aguçam as contradições regionais”
                                                    (Pómer, 2001, p. 56)
            Nessa linha interpretativa de Pómer, outro historiador que se debruçou sobre a guerra nos mesmos moldes foi o Brasileiro Júlio José chiavenato, apesar de Jornalista, seu livro “Genocídio Americano”, que está na 42º edição é visto como referência nos estudos da Guerra do Paraguai. 

Chiavenato foi contemporâneo dos anos de chumbo da Ditadura Brasileira, essa experiência influenciou sua visão sobre a guerra do Paraguai, já que o mesmo foi escrito enquanto o autor viaja durante os anos de exílio por Países latinos, o contato com a pobreza local fez com que o mesmo seguisse a linha Marxista de interpretação:
“Fizeram a Guerra por um só Motivo: Defender os interesses econômicos da Metrópole – Mãe, da Matriz que os sustentava devolvendo- lhes migalhas dos povos que iriam sacrificar-se no próximo Genocídio”
                                                  (Chiavenatto, 1979, p. 67)
            Autores diferentes, de Países distintos, porém se mantém a matriz explicativa reducionista de que a Inglaterra foi à causadora da Guerra do Paraguai, percebemos em ambos os trabalhos que apesar da insistência de culpa Britânica em ambos não encontrei fontes confiáveis que corroborassem com tal afirmativa.
            Nos últimos anos uma nova leva de Historiadores da Guerra do Paraguai está por meio de novos documentos e estudos comprovando que o conflito foi causado por questões latino – Americanas, onde se provou empiricamente a não intervenção Inglesa na eclosão do conflito.                        Dos novos trabalhos acadêmicos publicados o livro “A guerra é Nossa”: A Inglaterra não provocou a guerra do Paraguai, com certeza trouxe a tona informações importantes a cerca dos fatores que levaram ao conflito. Alfredo da Mota Menezes , Professor Doutor, autor do  mencionado livro,trabalha com a tese de que a Guerra do Paraguai teria sido causada por desavenças políticas oriundas do conflito entre colorados e Blancos no Uruguai.                                                                  Na sua visão a interferência externa de Brasil, Argentina e Paraguai nas questões internas do Uruguai foram a mistura que causou o conflito na bacia do Prata.Para tal afirmação o autor utiliza fontes primárias ligadas a diplomacia Britânica, após se debruçar sobre centenas de despachos diplomáticos enviados a Londres ele percebeu que a ação britânica foi no sentido de conter a Guerra e manter a paz no Prata.
           Nesse prisma Alfredo da  Mota Menezes desmontou a tese dos historiadores Marxistas, os documentos vasculhados por ele indicam que não a um único despacho ou carta de diplomatas ou do governo Britânico no sentido de causar a guerra do Paraguai para lucrar com a contenda. A documentação diz respeito ao trabalho dos diplomatas Ingleses na Bacia do Prata, Edward Thornton que atuava em Buenos Aires e William G. Lettsom em Montevidéu.As mensagens enviadas por ambos eram dirigidas ao Foreign Office em Londres.
“Não se encontra nos despachos diplomáticos dos Ingleses atos ou ações que incentivassem aquela parte do mundo a pegar em armas, principalmente a alegação de que se faria isso para impedir o crescimento econômico autônomo do Paraguai, que poderia em tantas interpretações sobre aquele momento, ser um modelo regional alternativo e contrário aos Ingleses naquela área”
                                          (Menezes, 2012, p. 104) 
            A luz dos documentos e provas empíricas a tese da historiografia Marxista não se confirma, a Inglaterra não acreditava que o Paraguai fosse um problema real ao ponto de desencadear um conflito. A paz na regional para o livre comércio dos produtos Britânicos era mais vantajoso que uma Guerra prolongada na Bacia do Prata.                                                            Nos registros deixados pela diplomacia Britânica sobre os momentos tensos que antecederam a Guerra Menezes afirma:
“Os Ingleses mais lutaram pela paz do que o Contrário”
                                           (Menezes, 2012, p. 104)                                                                                                                                                                                 A Historiografia Marxista mesmo não dispondo de provas insistiu por anos a fio na tese materialista da Guerra, Menezes baseou seu trabalho em provas cabais, não existe a possibilidade de um Conflito maquinado pelo suposto imperialismo Britânico sem o conhecimento da trama por parte de seus diplomatas na Bacia da Prata.
“Ações diplomáticas aconteciam de todos os lados. Uma ação que contraria a tese de que a área foi simplesmente manipulada pela Inglaterra para levar todos a uma Guerra”
                                          (Menezes, 2012, p.108)                                                                                                                                                                                 Sobre essa questão Menezes é enfático ao confirmar:
“Nos documentos não se encontram dados que mostrem que usaram entreveros regionais para criar o Conflito”                               (Menezes, 2012, P.108)
            A Guerra foi causada por disputas Geopolíticas da Bacia da Prata e Também pela disputa Político – Partidária do Uruguai que foi usada pelos seus vizinhos para desencadear um Conflito de proporções continentais, essa é a linha da nova Historiografia sobre as causas da Contenda. Menezes nos deixa um trabalho de referência na área, a Guerra do Paraguai passa a ser estudada sob um novo prisma e categoricamente podemos dizer que o conflito foi causado unicamente por questões latino-americanas:
“Reconheço que é ser repetitivo , mas se alguém quisesse fomentar desavenças e não buscar a paz iria tirar o assunto do foco sigiloso das conversas e trocas diplomáticas , e levá-lo para parte da população.Assim fizeram Thornton e seus companheiros nessa empreitada.Uma estranha atuação para quem queria que área pegasse fogo”                                                                               
                                                (Menezes,2012, p.110)