terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Um novo olhar sobre a guerra do Paraguai


Historicamente podemos definir a Guerra do Paraguai como sendo um conflito internacional que envolveu os Países da bacia da Prata entre os anos de 1864 a 1870. Interesses Geopolíticos, territoriais e de Política interna do Uruguai são citados pela maioria dos Historiadores latinos como os fatores que opuseram o império do Brasil e seus aliados Argentinos e uruguaios em um conflito armado contra o regime do Ditador Paraguaio Francisco Solano López.                                                           Os novos escritos sobre a Guerra do Paraguai nos últimos anos vem trabalhando no sentido de derrubar as antigas vertentes da esquerda latina que afirmavam ser a guerra um enorme jogo de interesses econômicos manipulado pelos Britânicos. Nos anos 80 a esquerda era marcante nos círculos universitários acadêmicos, era contexto de Guerra Fria e vivíamos sob a tutela de Ditaduras militares que controlavam o Cone sul, a Guerra do Paraguai nesse cenário foi utilizada para justificativa da polarização ideológica em voga na época. Segundo os Historiadores dessa corrente de pensamento o Paraguai era um “Oásis” de autonomia e prosperidade social, quase como uma experiência pré – socialista em meio ao imperialismo Britânico representado pelo Império do Brasil. Um modelo de política que não poderia contaminar o restante da América do Sul, A guerra foi vista como o meio necessário de acabar com o exemplo independência do Paraguai. 
          Essa linha interpretativa que sofre com falta de provas e documentos que confirmem tal tese, segue a teoria de Marx sobre a dialética, uma linha criada a partir do conceito de lutas de classes, opressores e oprimidos. Na América Latina os Historiadores Leon Pómer e Júlio José chiavenatto são os principais expoentes dessa linha de interpretação que culpa a Inglaterra pela eclosão da Guerra do Paraguai. Apesar de não serem acadêmicos no sentido literal do termo seus livros já foram reeditados por dezenas de vezes e as teses levantadas por ambos continuam a ser ensinadas nos bancos escolares, porém os novos estudos comprovam as inverdades propagadas ao longo das últimas décadas.Vejamos as versões apresentadas por ambos como justificativa para a eclosão da Guerra do Paraguai.
         No livro “Nossa Guerra contra esse Soldado”, publicado em versão contemporânea pela editora História popular Leon Pómer afirma:
“Tal é o Paraguai aos olhos da burguesia Inglesa e de outras burguesias Europeias altamente desenvolvidas, e tal se torna logo aos olhos de alguns cavalheiros que na Prata e no Brasil traficam e comercializam com as potências de ultramar, sem se preocuparem com outra coisa a não ser seus mesquinhos e restritos interesses de classe”
                                                      (Pómer, 2001, p. 12)
         Na visão do Historiador Argentino, famoso e respeitado em seu País, a Guerra do Paraguai teria sido fruto dos Interesses Brasileiros, Ingleses e Argentinos na destruição do Governo Solano López no Paraguai que naquele momento promovia sérias reformas sociais em seu País. Ao longo do livro Pomér cita como justificativa a intervenção do Brasil e Argentina na Política interna do Uruguai em favor dos Colorados como prova de que ambos na manutenção de seus interesses promoviam uma política imperialista apoiada pela Inglaterra para manter sobre controle a Bacia da Prata. Nessa linha de raciocínio Solano López era um “Mártir” que lutava contra a opressão dos vizinhos gigantes. Enfático na tese dos interesses britânicos como causadores da Guerra Pómer Afirma que o Brasil não teria como vencer o Paraguai que na sua visão era uma “potência” sem a providencial ajuda das libras esterlinas dos ingleses:
“O Brasil não podia partir para a guerra, se ele não tivesse cometido a loucura de lançar-se nesta aventura apenas com seus limitados recursos”
                                                       (Pómer, 2001; p. 24)

            Insistindo na suposta Vantagem do Paraguai em relação ao Brasil ele diz:
“Não seria difícil prever que a Guerra terminaria muito antes e certamente não com a derrota do Paraguai”
                                                       (Pómer, 2001, p. 24)
            Vimos nesse mesmo artigo científico que tais afirmações são inverídicas baseados nos levantamentos de Doratioto, pois os dados comprovam que o Brasil custeou a Guerra com base no Erário público, a guerra, portanto foi paga pelos Brasileiros, essa visão do financiamento Inglês não se sustenta a luz dos fatos.                      
            Em suma para Leon Pomér as causas da Guerra são resumidas em afirmações quase fictícias, que insistem em culpar a Inglaterra por um conflito que a nova historiografia vem demonstrando ser culpa exclusiva de assuntos latino – Americanos:
“A Guerra do Paraguai foi uma grande catástrofe. De qualquer forma, ela constitui uma das muitas em que podemos detectar a mão velada do Capitalismo central, mão essa que sem dúvida se faz presente, sempre que se aguçam as contradições regionais”
                                                    (Pómer, 2001, p. 56)
            Nessa linha interpretativa de Pómer, outro historiador que se debruçou sobre a guerra nos mesmos moldes foi o Brasileiro Júlio José chiavenato, apesar de Jornalista, seu livro “Genocídio Americano”, que está na 42º edição é visto como referência nos estudos da Guerra do Paraguai. 

Chiavenato foi contemporâneo dos anos de chumbo da Ditadura Brasileira, essa experiência influenciou sua visão sobre a guerra do Paraguai, já que o mesmo foi escrito enquanto o autor viaja durante os anos de exílio por Países latinos, o contato com a pobreza local fez com que o mesmo seguisse a linha Marxista de interpretação:
“Fizeram a Guerra por um só Motivo: Defender os interesses econômicos da Metrópole – Mãe, da Matriz que os sustentava devolvendo- lhes migalhas dos povos que iriam sacrificar-se no próximo Genocídio”
                                                  (Chiavenatto, 1979, p. 67)
            Autores diferentes, de Países distintos, porém se mantém a matriz explicativa reducionista de que a Inglaterra foi à causadora da Guerra do Paraguai, percebemos em ambos os trabalhos que apesar da insistência de culpa Britânica em ambos não encontrei fontes confiáveis que corroborassem com tal afirmativa.
            Nos últimos anos uma nova leva de Historiadores da Guerra do Paraguai está por meio de novos documentos e estudos comprovando que o conflito foi causado por questões latino – Americanas, onde se provou empiricamente a não intervenção Inglesa na eclosão do conflito.                        Dos novos trabalhos acadêmicos publicados o livro “A guerra é Nossa”: A Inglaterra não provocou a guerra do Paraguai, com certeza trouxe a tona informações importantes a cerca dos fatores que levaram ao conflito. Alfredo da Mota Menezes , Professor Doutor, autor do  mencionado livro,trabalha com a tese de que a Guerra do Paraguai teria sido causada por desavenças políticas oriundas do conflito entre colorados e Blancos no Uruguai.                                                                  Na sua visão a interferência externa de Brasil, Argentina e Paraguai nas questões internas do Uruguai foram a mistura que causou o conflito na bacia do Prata.Para tal afirmação o autor utiliza fontes primárias ligadas a diplomacia Britânica, após se debruçar sobre centenas de despachos diplomáticos enviados a Londres ele percebeu que a ação britânica foi no sentido de conter a Guerra e manter a paz no Prata.
           Nesse prisma Alfredo da  Mota Menezes desmontou a tese dos historiadores Marxistas, os documentos vasculhados por ele indicam que não a um único despacho ou carta de diplomatas ou do governo Britânico no sentido de causar a guerra do Paraguai para lucrar com a contenda. A documentação diz respeito ao trabalho dos diplomatas Ingleses na Bacia do Prata, Edward Thornton que atuava em Buenos Aires e William G. Lettsom em Montevidéu.As mensagens enviadas por ambos eram dirigidas ao Foreign Office em Londres.
“Não se encontra nos despachos diplomáticos dos Ingleses atos ou ações que incentivassem aquela parte do mundo a pegar em armas, principalmente a alegação de que se faria isso para impedir o crescimento econômico autônomo do Paraguai, que poderia em tantas interpretações sobre aquele momento, ser um modelo regional alternativo e contrário aos Ingleses naquela área”
                                          (Menezes, 2012, p. 104) 
            A luz dos documentos e provas empíricas a tese da historiografia Marxista não se confirma, a Inglaterra não acreditava que o Paraguai fosse um problema real ao ponto de desencadear um conflito. A paz na regional para o livre comércio dos produtos Britânicos era mais vantajoso que uma Guerra prolongada na Bacia do Prata.                                                            Nos registros deixados pela diplomacia Britânica sobre os momentos tensos que antecederam a Guerra Menezes afirma:
“Os Ingleses mais lutaram pela paz do que o Contrário”
                                           (Menezes, 2012, p. 104)                                                                                                                                                                                 A Historiografia Marxista mesmo não dispondo de provas insistiu por anos a fio na tese materialista da Guerra, Menezes baseou seu trabalho em provas cabais, não existe a possibilidade de um Conflito maquinado pelo suposto imperialismo Britânico sem o conhecimento da trama por parte de seus diplomatas na Bacia da Prata.
“Ações diplomáticas aconteciam de todos os lados. Uma ação que contraria a tese de que a área foi simplesmente manipulada pela Inglaterra para levar todos a uma Guerra”
                                          (Menezes, 2012, p.108)                                                                                                                                                                                 Sobre essa questão Menezes é enfático ao confirmar:
“Nos documentos não se encontram dados que mostrem que usaram entreveros regionais para criar o Conflito”                               (Menezes, 2012, P.108)
            A Guerra foi causada por disputas Geopolíticas da Bacia da Prata e Também pela disputa Político – Partidária do Uruguai que foi usada pelos seus vizinhos para desencadear um Conflito de proporções continentais, essa é a linha da nova Historiografia sobre as causas da Contenda. Menezes nos deixa um trabalho de referência na área, a Guerra do Paraguai passa a ser estudada sob um novo prisma e categoricamente podemos dizer que o conflito foi causado unicamente por questões latino-americanas:
“Reconheço que é ser repetitivo , mas se alguém quisesse fomentar desavenças e não buscar a paz iria tirar o assunto do foco sigiloso das conversas e trocas diplomáticas , e levá-lo para parte da população.Assim fizeram Thornton e seus companheiros nessa empreitada.Uma estranha atuação para quem queria que área pegasse fogo”                                                                               
                                                (Menezes,2012, p.110)

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