Historicamente podemos definir a Guerra do Paraguai como
sendo um conflito internacional que envolveu os Países da bacia da Prata entre
os anos de 1864 a 1870. Interesses Geopolíticos, territoriais e de Política
interna do Uruguai são citados pela maioria dos Historiadores latinos como os
fatores que opuseram o império do Brasil e seus aliados Argentinos e uruguaios
em um conflito armado contra o regime do Ditador Paraguaio Francisco Solano
López. Os novos
escritos sobre a Guerra do Paraguai nos últimos anos vem trabalhando no sentido
de derrubar as antigas vertentes da esquerda latina que afirmavam ser a guerra
um enorme jogo de interesses econômicos manipulado pelos Britânicos. Nos anos
80 a esquerda era marcante nos círculos universitários acadêmicos, era contexto
de Guerra Fria e vivíamos sob a tutela de Ditaduras militares que controlavam o
Cone sul, a Guerra do Paraguai nesse cenário foi utilizada para justificativa
da polarização ideológica em voga na época. Segundo os
Historiadores dessa corrente de pensamento o Paraguai era um “Oásis” de
autonomia e prosperidade social, quase como uma experiência pré – socialista em
meio ao imperialismo Britânico representado pelo Império do Brasil. Um modelo
de política que não poderia contaminar o restante da América do Sul, A guerra
foi vista como o meio necessário de acabar com o exemplo independência do
Paraguai.
Essa linha
interpretativa que sofre com falta de provas e documentos que confirmem tal tese,
segue a teoria de Marx sobre a dialética, uma linha criada a partir do conceito
de lutas de classes, opressores e oprimidos. Na América Latina os Historiadores
Leon Pómer e Júlio José chiavenatto são os principais expoentes dessa linha de
interpretação que culpa a Inglaterra pela eclosão da Guerra do Paraguai. Apesar
de não serem acadêmicos no sentido literal do termo seus livros já foram
reeditados por dezenas de vezes e as teses levantadas por ambos continuam a ser
ensinadas nos bancos escolares, porém os novos estudos comprovam as inverdades
propagadas ao longo das últimas décadas.Vejamos as versões apresentadas por
ambos como justificativa para a eclosão da Guerra do Paraguai.
No livro
“Nossa Guerra contra esse Soldado”, publicado em versão contemporânea pela
editora História popular Leon Pómer afirma:
“Tal é o Paraguai aos olhos da burguesia Inglesa e de outras
burguesias Europeias altamente desenvolvidas, e tal se torna logo aos olhos de
alguns cavalheiros que na Prata e no Brasil traficam e comercializam com as
potências de ultramar, sem se preocuparem com outra coisa a não ser seus
mesquinhos e restritos interesses de classe”
(Pómer,
2001, p. 12)
Na
visão do Historiador Argentino, famoso e respeitado em seu País, a Guerra do
Paraguai teria sido fruto dos Interesses Brasileiros, Ingleses e Argentinos na
destruição do Governo Solano López no Paraguai que naquele momento promovia
sérias reformas sociais em seu País. Ao longo do livro Pomér cita como
justificativa a intervenção do Brasil e Argentina na Política interna do
Uruguai em favor dos Colorados como prova de que ambos na manutenção de seus
interesses promoviam uma política imperialista apoiada pela Inglaterra para
manter sobre controle a Bacia da Prata. Nessa linha de raciocínio Solano López
era um “Mártir” que lutava contra a opressão dos vizinhos gigantes. Enfático na
tese dos interesses britânicos como causadores da Guerra Pómer Afirma que o
Brasil não teria como vencer o Paraguai que na sua visão era uma “potência” sem
a providencial ajuda das libras esterlinas dos ingleses:
“O Brasil não podia partir para a guerra, se ele não tivesse
cometido a loucura de lançar-se nesta aventura apenas com seus limitados
recursos”
(Pómer, 2001; p. 24)
Insistindo
na suposta Vantagem do Paraguai em relação ao Brasil ele diz:
“Não seria difícil prever que a Guerra terminaria muito
antes e certamente não com a derrota do Paraguai”
(Pómer, 2001,
p. 24)
Vimos nesse
mesmo artigo científico que tais afirmações são inverídicas baseados nos
levantamentos de Doratioto, pois os dados comprovam que o Brasil custeou a
Guerra com base no Erário público, a guerra, portanto foi paga pelos
Brasileiros, essa visão do financiamento Inglês não se sustenta a luz dos
fatos.
Em suma
para Leon Pomér as causas da Guerra são resumidas em afirmações quase
fictícias, que insistem em culpar a Inglaterra por um conflito que a nova
historiografia vem demonstrando ser culpa exclusiva de assuntos latino –
Americanos:
“A Guerra do Paraguai foi uma grande catástrofe. De qualquer
forma, ela constitui uma das muitas em que podemos detectar a mão velada do
Capitalismo central, mão essa que sem dúvida se faz presente, sempre que se
aguçam as contradições regionais”
(Pómer, 2001, p. 56)
Nessa linha
interpretativa de Pómer, outro historiador que se debruçou sobre a guerra nos
mesmos moldes foi o Brasileiro Júlio José chiavenato, apesar de Jornalista, seu
livro “Genocídio Americano”, que está na 42º edição é visto como referência nos
estudos da Guerra do Paraguai.
Chiavenato foi contemporâneo dos anos de chumbo
da Ditadura Brasileira, essa experiência influenciou sua visão sobre a guerra
do Paraguai, já que o mesmo foi escrito enquanto o autor viaja durante os anos
de exílio por Países latinos, o contato com a pobreza local fez com que o mesmo
seguisse a linha Marxista de interpretação:
“Fizeram a Guerra por um só Motivo: Defender os interesses
econômicos da Metrópole – Mãe, da Matriz que os sustentava devolvendo- lhes
migalhas dos povos que iriam sacrificar-se no próximo Genocídio”
(Chiavenatto, 1979, p. 67)
Autores
diferentes, de Países distintos, porém se mantém a matriz explicativa
reducionista de que a Inglaterra foi à causadora da Guerra do Paraguai,
percebemos em ambos os trabalhos que apesar da insistência de culpa Britânica
em ambos não encontrei fontes confiáveis que corroborassem com tal afirmativa.
Nos últimos
anos uma nova leva de Historiadores da Guerra do Paraguai está por meio de
novos documentos e estudos comprovando que o conflito foi causado por questões
latino – Americanas, onde se provou empiricamente a não intervenção Inglesa na
eclosão do conflito. Dos
novos trabalhos acadêmicos publicados o livro “A guerra é Nossa”: A Inglaterra
não provocou a guerra do Paraguai, com certeza trouxe a tona informações
importantes a cerca dos fatores que levaram ao conflito. Alfredo da Mota
Menezes , Professor Doutor, autor do
mencionado livro,trabalha com a tese de que a Guerra do Paraguai teria
sido causada por desavenças políticas oriundas do conflito entre colorados e
Blancos no Uruguai. Na
sua visão a interferência externa de Brasil, Argentina e Paraguai nas questões
internas do Uruguai foram a mistura que causou o conflito na bacia do
Prata.Para tal afirmação o autor utiliza fontes primárias ligadas a diplomacia
Britânica, após se debruçar sobre centenas de despachos diplomáticos enviados a
Londres ele percebeu que a ação britânica foi no sentido de conter a Guerra e
manter a paz no Prata.
Nesse
prisma Alfredo da Mota Menezes desmontou
a tese dos historiadores Marxistas, os documentos vasculhados por ele indicam
que não a um único despacho ou carta de diplomatas ou do governo Britânico no sentido
de causar a guerra do Paraguai para lucrar com a contenda. A documentação diz
respeito ao trabalho dos diplomatas Ingleses na Bacia do Prata, Edward Thornton
que atuava em Buenos Aires e William G. Lettsom em Montevidéu.As mensagens
enviadas por ambos eram dirigidas ao Foreign Office em Londres.
“Não se encontra nos despachos diplomáticos dos Ingleses
atos ou ações que incentivassem aquela parte do mundo a pegar em armas, principalmente
a alegação de que se faria isso para impedir o crescimento econômico autônomo
do Paraguai, que poderia em tantas interpretações sobre aquele momento, ser um
modelo regional alternativo e contrário aos Ingleses naquela área”
(Menezes, 2012, p. 104)
A luz dos
documentos e provas empíricas a tese da historiografia Marxista não se
confirma, a Inglaterra não acreditava que o Paraguai fosse um problema real ao
ponto de desencadear um conflito. A paz na regional para o livre comércio dos
produtos Britânicos era mais vantajoso que uma Guerra prolongada na Bacia do
Prata. Nos
registros deixados pela diplomacia Britânica sobre os momentos tensos que
antecederam a Guerra Menezes afirma:
“Os Ingleses mais lutaram pela paz do que o Contrário”
(Menezes, 2012, p. 104) A
Historiografia Marxista mesmo não dispondo de provas insistiu por anos a fio na
tese materialista da Guerra, Menezes baseou seu trabalho em provas cabais, não
existe a possibilidade de um Conflito maquinado pelo suposto imperialismo
Britânico sem o conhecimento da trama por parte de seus diplomatas na Bacia da
Prata.
“Ações diplomáticas aconteciam de todos os lados. Uma ação
que contraria a tese de que a área foi simplesmente manipulada pela Inglaterra
para levar todos a uma Guerra”
(Menezes, 2012, p.108)
Sobre
essa questão Menezes é enfático ao confirmar:
“Nos documentos não se encontram dados que mostrem que
usaram entreveros regionais para criar o Conflito” (Menezes, 2012,
P.108)
A Guerra
foi causada por disputas Geopolíticas da Bacia da Prata e Também pela disputa
Político – Partidária do Uruguai que foi usada pelos seus vizinhos para
desencadear um Conflito de proporções continentais, essa é a linha da nova
Historiografia sobre as causas da Contenda. Menezes nos deixa um trabalho de
referência na área, a Guerra do Paraguai passa a ser estudada sob um novo
prisma e categoricamente podemos dizer que o conflito foi causado unicamente
por questões latino-americanas:
“Reconheço que é ser repetitivo , mas se alguém quisesse
fomentar desavenças e não buscar a paz iria tirar o assunto do foco sigiloso
das conversas e trocas diplomáticas , e levá-lo para parte da população.Assim
fizeram Thornton e seus companheiros nessa empreitada.Uma estranha atuação para
quem queria que área pegasse fogo”
(Menezes,2012, p.110)
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