sábado, 29 de fevereiro de 2020

Segundo reinado (1840 -1889)


No advento do segundo reinado, mas especificamente na primeira fase (1840-1864) o novo imperador teve que lidar com problemas de política interna, questões de diplomacia, pacificar o País e ainda retirar o Brasil da crise econômica que se encontrava desde o primeiro reinado. Os dilemas eram complexos para um governante tão novo, e que herdara um País repleto de conflitos de toda ordem, porém é importante frisar que o imperador soube lidar com o jogo político que se configurava diante dele e manteve o Brasil sob relativa calmaria até a eclosão da guerra do Paraguai. O imperador teve de gerenciar uma disputa política que causava certa turbulência, logo após a sua posse, os partidos liberais e conservador se digladiavam pela atenção do monarca e logicamente por cargos de comando em seu governo. O partido liberal era composto por membros da “classe Média urbana”, profissionais liberais, comerciantes e intelectuais na época intitulados “Luzias”. Os conservadores eram formados por integrantes da elite latifundiária Brasileira e escravista, conhecida pelo nome de “Saquaremas”. Apesar da suposta rivalidade entre eles, liberais e conservadores possuíam mais características em comum do que antagonismos, por pertencerem à elite brasileira ambos estavam interessados em manter os privilégios conquistados, em suma podemos dizer que eram “farinha do mesmo saco”. O primeiro gabinete formado por D. Pedro II era liberal, o chamado gabinete dos “Irmãos”, era controlado pelos Andradas e Cavalcanti, mas em pouco tempo os conservadores ganham espaço perante o imperador, promovendo o afastamento dos liberais e a criação de Leis centralizadoras. Por conta desse isolamento político e exclusão do círculo de poder os liberais promovem revoltas, São Paulo sob a liderança do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e Minas Gerais com o Político Teófilo Ottoni a frente da Causa Liberal. Esses levantes promovidos pelo ressentimento dos liberais com o imperador em 1842 deixou claro para D. Pedro II que manter as disputas políticas sob controle não seria nada fácil, com a criação do chamado gabinete da conciliação o monarca enfim consegue colocar um cabresto nos embates entre liberais e conservadores. Em 1847 o monarca implanta o regime Parlamentarista no Brasil, aqui tal sistema foi chamado de “Parlamentarismo às avessas”, por conta da comparação inevitável com o sistema Britânico. Na Inglaterra o parlamento acumula mais funções e poderes em relação à monarquia, no Brasil ao contrário do que ocorria no Reino Unido era o Monarca a autoridade do País, controlando a chefia do conselho de ministros e com as prerrogativas do poder moderador ficava fácil para Imperador manter as instituições e decisões políticas sob controle. No campo dos problemas internos causados pelas inúmeras revoltas desencadeadas no período regencial, a revolução farroupilha foi uma herança dessa fase complicada e que acabou adentrando no segundo reinado, coube ao monarca por um ponto final nessa história e reintegrar os gaúchos a nação. A região sul do Brasil era de fundamental importância para a economia do império por conta da produção de charque, para as finanças do país era clara a necessidade de acabar com o clima belicoso que a muito tomava os “Espíritos” da região com idéias separatistas. Com vistas a botar um ponto final no conflito o monarca nomeia Caxias comandante de armas com a tarefa de acabar com a farroupilha, após uma série de batalhas na região o conflito se encerra em condições honrosas para os Gaúchos. Um problema sério terminava, porém em 1848 uma nova revolta nascia trazendo de volta o fantasma da insurreição popular. A chamada revolução Praieira começou na província de Pernambuco, ganhou esse nome por conta de um grupo político conhecido por “A Praia” que se reunia na rua da praia na sede do jornal “diário novo” em recife. Entre as causas do movimento estava a revolta popular em relação aos abusos de poder da família Cavalcanti que controlava a região como um curral político. Também está nas causas do movimento um forte sentimento anti-lusitano, em virtude do monopólio exercido pelos Portugueses no comércio Varejista da região. A revolta contava com a liderança de Nunes machado, Pedro Ivo e Borges da Fonseca, homens que na essência não toleravam mais os abusos cometidos na região e a inércia da monarquia Brasileira de resolver ou simplesmente amenizar o sofrimento do povo nordestino. O estopim do conflito foi à destituição do presidente da província de Pernambuco, o político liberal Chichorro da Gama, os rebeldes enfrentaram as forças legalistas por cinco meses, mas a desproporção de forças levou a derrota dos Praieiros. A Pacificação da região esteve a cabo de Vieira Tosta, enviado com plenos poderes para por um fim na revolução Praieira. Logo abaixo está o documento intitulado Manifesto ao Mundo de autoria de Borges da Fonseca, líder dos Praieiros, ele serve para ilustrar as reivindicações do movimento:


                           MANIFESTO AO MUNDO                               
                              Por:  Borges da Fonseca                                                                       
Voto livre e universal
Liberdade total de Imprensa
Direito ao trabalho
Inteira e efetiva autonomia dos poderes constituídos
Nacionalização do comércio varejista
Adoção do federalismo
Reforma do Poder judiciário
Extinção dos Juros
Abolição do sistema de recrutamento
Abolição do poder moderador
Supressão da vitaliciedade do senado
Expulsão dos Portugueses    
                                              
Com a derrota da Praieira o império desfrutou de relativa paz no plano interno sem nenhum movimento armado de grande expressão como aqueles vividos no período regencial (1831-1840). Porém no plano externo o Brasil e o Imperador D. Pedro II enfrentaram um sério atrito diplomático que deixou a nossa nação em pé de guerra com a Inglaterra, a chamada questão Christie. Tudo começou com as constantes intervenções Britânicas nos assuntos brasileiros desde a época da independência (1822). Os interesses comerciais dos Ingleses entraram em rota de colisão com o tráfico e escravidão praticados pelo império brasileiro. A raiz das hostilidades está na posição Brasileira de manter a escravidão como regime de trabalho no País, contrariando as novas diretrizes abolicionistas dos Britânicos. A tarifa Alves branco que suspendeu todos os benefícios e privilégios que os comerciantes ingleses desfrutavam no Brasil só serviu para acirrar ainda mais os ânimos entre as duas nações. A vingança veio com a aprovação da lei BILL ABERDEEN pelo parlamento britânico que previa o aprisionamento de barcos que traficavam escravos e dava direito à marinha inglesa de afundar em casos extremos os navios Tumbeiros que reagissem à prisão. A Pressão Britânica foi tão grande que o imperador D. Pedro II se viu obrigado a engolir a Lei Eusébio de queirós (1850) que extinguiu o tráfico de escravos para o Brasil. A Gota d’água nessa relação problemática foi a justamente a questão Christie (1861-1865). A origem desse entrevero diplomático foi o naufrágio e posterior pilhagem do navio Britânico “Príncipe de Gales” no Rio grande do Sul. Indignado com o fato o embaixador Britânico no Brasil William Christie exigiu das autoridades competentes uma indenização por conta dos prejuízos causados. A recusa do governo Brasileiro em arcar com os danos causados deixou o representante Inglês em estado de fúria, colocando as relações entre os dois Países em maus lençóis. Para colocar mais lenha na fogueira no dia 17 de julho de 1862, três oficiais da marinha Inglesa causaram muita baderna e confusão no Rio de Janeiro. Com gestos obscenos praticados nas ruas cariocas e uma briga com integrantes de um posto policial levou os marinheiros para cadeia. Em um caso aparentemente simples, o embaixador William Christie causou uma tempestade em copo d’água, o mesmo exigiu uma enorme retração por parte do Governo brasileiro. Pediu a demissão dos oficiais do posto militar envolvidos na briga, punição para os soldados, punição para o chefe de Polícia do Rio de Janeiro e ainda um pedido de desculpas oficiais. Se o imperador tivesse cedido as exigências do embaixador Inglês com certeza estaria desmoralizado perante o povo Brasileiro e sua posição enfraquecida perante os políticos de tendência anti-Britânica, que, diga-se de passagem, não eram poucos. Sereno e absoluto de suas atitudes mais uma vez o monarca brasileiro não se rendeu ao Egocentrismo de William Christie, se negando terminantemente a aceitar as exigências da diplomacia Britânica no Brasil. Como represália a negativa brasileira em atender suas ordens o embaixador Inglês ordenou a prisão de dezenas de embarcações Brasileiras que partiam do Rio de janeiro, entre 31 de dezembro de 1862 e 3 de janeiro de 1863 a marinha real britânica aprisionou de maneira arbitrária uma frota mercantil que nada tinha a ver com os problemas de ordem diplomática causado por autoridades políticas. A queda de braço entre D. Pedro II e William Christie levou a um rompimento de relações diplomáticas que durou até meados de 1865. O saldo final foi um julgamento em tribunal neutro na Bélgica, onde o Brasil se viu obrigado a pagar o valor pedido por conta do saque ao navio “Príncipe de Gales”, a Inglaterra teve que devolver as embarcações Brasileiras e o embaixador William Christie se viu obrigado a pedir desculpas ao governo Brasileiro botando um ponto final na questão. No plano econômico o Império viu nascer o cultivo em larga escala do café, e por volta de 1840 o produto já ocupava lugar de destaque na pauta de exportação do Brasil. Os primeiros cafezais cultivados em larga escala com fins de exportação foram no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba (SP). Porém o grande apogeu no cultivo do Café foi o Oeste Paulista, novas técnicas de cultivo e experiências na questão da mão de obra fizeram da região um grande pólo produtor tendo como centro as cidades de limeira, Jundiaí, Itu, Campinas e Sorocaba. A economia cafeeira manteve a estrutura do grande latifúndio com mão de obra escrava até o advento da imigração Italiana, intensificada com a lei Eusébio de queirós que extinguiu o tráfico negreiro. O café foi o “Ouro Verde” que ajudou a amenizar a crise econômica que se arrastava desde o primeiro reinado (1822-1831), mas não alterou a estrutura agrícola que reinava no País há séculos, nessa primeira fase do segundo reinado o Brasil manteve-se atrelado a tradição de economia vinculada às atividades do campo. Apesar do novo vigor à cambaleante economia Brasileira, o Café não foi capaz de salvar o País da eterna dependência do mercado estrangeiro e empréstimos externos. O modelo de grandes latifúndios, com mão de obra escrava e monocultura de um produto em larga escala foi mantido de maneira inalterada, ao menos uma voz destoava na multidão, um Homem que sonhava com uma Nação moderna, industrial e sem escravos; o Barão e Visconde de Mauá. Irineu evangelista de Sousa nasceu em Arroio grande, então distrito de Jaguarão, Rio grande do sul, no dia 28 de dezembro de 1813. Sua Infância marcada pela perda do Pai e o abandono precoce por parte de sua Mãe que ao se casar novamente enviou o menino para o rio de janeiro na companhia de um tio. O garoto que aos 11 anos trabalhava como balconista vai se transformar no intervalo de três décadas em um dos homens mais ricos do mundo no século XIX graças a seu trabalho duro e visão de futuro. Em 1846, Mauá inaugura um Estaleiro na cidade de Niterói no Rio de Janeiro que possuía mais de Mil empregados, trabalhando na produção de Navios, Caldeiras para Máquinas a vapor, prensas mecânicas e Armas. No ano de 1852, ele inaugura a primeira ferrovia a vapor do Brasil ligando a cidade do Rio de Janeiro a Petrópolis. Fundou a companhia de gás para iluminação do rio de janeiro em 1854 e também foi o responsável pela instalação dos cabos submarinos telegráficos que ligavam o Brasil a Europa. Dinâmico, os negócios do Barão envolviam ainda a posse de várias fazendas com gado de corte, bancos no Brasil e países da América do sul. Ao todo Mauá possuía 17 empresas em seis países, sua fortuna em 1867 chegava à cifra de 115 mil contos de réis, em uma época onde o orçamento do império brasileiro era de 97 mil contos de réis. O Barão de Mauá acabou na falência em virtude dos vários inimigos que acumulou durante a vida, o fato de ser liberal e abolicionista acrescentou até mesmo o próprio imperador na sua longa lista de desafetos. Em 1875 o Banco Mauá vai a falência dando um duro golpe em suas finanças, mesmo falido vendou grande parte de tudo que tinha pagando posteriormente todos que haviam investido dinheiro em seus empreendimentos. Um “Gênio Capitalista” a frente de seu tempo e que foi derrotado justamente pelos costumes conservadores de sua época. Mauá faleceu no dia 21 de outubro de 1889, na cidade de Petrópolis, como consolo ele pode assistir a abolição da escravidão, um sonho antigo que se realizava. No próximo capítulo vamos percorrer um assunto trágico da nossa história no século XIX, a Guerra do Paraguai, conflito que mudou a estrutura do País e que levou a monarquia a suspiros finais até a queda inevitável em 1889.        





Nenhum comentário:

Postar um comentário