sábado, 29 de fevereiro de 2020

Rebeliões do Período Regencial

As contradições do período regencial pode ser uma das chaves para desvendar o porquê das revoltas e de tanta violência desencadeada no período entre a saída de D. Pedro I e a posse do filho ainda menor de idade em 1840. Uma década marcada por levantes que mataram milhares de pessoas de ambos os lados da lei, “Guerras civis” que dizimaram a vida de brasileiros que se sentiam órfãos de comando e desterrados no seu próprio país. A independência do Brasil não significou uma ruptura com as antigas estruturas agrárias e escravocratas, para os negros a liberdade da antiga colônia não se estendeu a eles, os brasileiros que a muito conviviam com o trabalho nas grandes lavouras também não foram beneficiados com a ruptura política em relação à metrópole Portugal, continuavam a viver a margem de grandes latifúndios que pertenciam a poucos homens apaniguados. O comércio continuou durante todo o primeiro reinado e período regencial controlados por uma casta de privilegiados Portugueses que monopolizavam o ramo varejista além de só empregar familiares recém chegados da Europa, por conta de tais privilégios uma onda de sentimento Antilusitano vai tomar as ruas de várias cidades e províncias do País. A miséria e o isolamento econômico de áreas do nordeste em relação às decisões e investimentos que privilegiavam a região sudeste serão outros fortes argumentos utilizados pela população para tramar contra a regência e levantar aos quatros cantos ideias republicanas. A cabanagem revolta de cunho popular eclodiu na província do Grão-Pará em 1835, a região já vivia um cenário de intranqüilidade política desde a época da independência onde surgiu um forte sentimento de aversão ao poder central em razão dos abusos cometidos na consolidação da emancipação do Brasil na província, o almirante Grenfell com certeza não deixou saudades na região após os trabalhos que o mesmo prestou na pacificação local a serviço de D. Pedro I. O fato é que a independência do Brasil não melhorou em nada a vida de milhares de camponeses pobres da região que habitavam cabanas simples e precárias nas margens de rios que cortam a província, o nome cabanagem foi extraído das características dessas humildes moradias dos cabanos paraenses. Os cabanos organizados sob as lideranças de Clemente Malcher, irmãos vinagre, Ferreira lavor e Eduardo Angelim derrubam as autoridades de Belém e nomeiam um governo na figura de Malcher, porém o mesmo acaba destituído e substituído por Francisco vinagre. O movimento entra em uma gangorra política no momento que suas lideranças começam a brigar pelo poder, prova disso é que Antônio vinagre vira oposição de seu irmão Francisco em razão do mesmo tentar uma conciliação com o governo regencial. Depois de algumas derrotas para o governo regencial que chegou a empregar mercenários no combate aos cabanos, os revolucionários tomam o poder novamente e Eduardo Angelim é feito líder do movimento. Porém o governo cabano terá uma vida efêmera, pois em abril de 1836 o governo regencial envia uma força de repressão juntamente com o novo presidente da província do Pará o brigadeiro Francisco José de Souza Andréia, que perseguiu sem dó os revoltosos pacificando a província. O saldo da cabanagem deixou a triste cifra de 30 mil pessoas mortas, porém é a única revolta onde podemos dizer que camadas populares estiveram à frente do poder, mesmo que em um curto espaço de tempo. Na Bahia em 1835 temos a chamada revolta dos Malês, Negros de religião e cultura muçulmana que lutou contra a imposição da fé católica e proibição da capoeira, ambicionavam o apoio de outros negros escravos na luta contra a escravidão. O movimento teve vida Efêmera, a guarda nacional agiu rapidamente prendendo os negros insurgentes. Salvador foi o palco de uma nova revolta que pretendia por em xeque o poder regencial, a Sabinada que durou de 1837 a 1838. O levante pretendia separar a província da Bahia até a maioridade de D. Pedro II, a classe média Baiana tinha na figura do médico Sabino Álvares da rocha vieira a liderança e inspiração para o movimento. A república Bahiense existiria somente até o momento que o imperador D. Pedro II, herdeiro legal do trono viesse a ocupar o cargo deixado por seu Pai, a sabinada nutria um forte sentimento de aversão em relação à administração dos regentes, sendo essa questão de fundamental importância para o acirramento dos ânimos da população baiana. Com a forte repressão centenas de pessoas morreram, outros milhares de revoltosos acabaram presos e até o doutor Sabino acabou condenado ao desterro na província do Mato grosso. A Balaiada que tomou conta da província do maranhão de 1838 a 1841 é outro movimento de caráter social e popular que surgiu no período regencial, porém é difícil delimitar as suas causas e bandeiras em razão das várias questões de ordem política e social que existiam na província. A balaiada tem seu nome inspirado no Balaio cesto artesanal característico da região, uma fonte de renda para os artesãos que viviam na província, o movimento contava com a participação também de negros quilombolas e vaqueiros pobres da região. O forte sentimento de exclusão social é usado como argumento para reunir artesãos, escravos e vaqueiros em um movimento de forte apego popular, mas sem organização e uma bandeira pela qual lutar, a causa dos balaios acabou classificada como banditismo social. Sob a liderança de Francisco dos anjos, Raimundo Gomes e o líder quilombola Nêgo Cosme os balaios impuseram o terror na província promovendo saques a cidades, comércios que geralmente pertenciam a portugueses e fazendas. O espírito arruaceiro por parte das lideranças e até desavenças entre eles acabaram por enfraquecer os Balaios, a revolta foi desarticulada pela forte repressão liderada pelo presidente da província o coronel Luís Alves de lima e Silva. A última revolta do período, a revolução Farroupilha, foi a mais duradora em razão dos vastos recursos que a elite gaúcha dispunha para manter uma guerra de longo prazo, os farroupilhas depuseram as armas somente no segundo reinado com D. Pedro II a frente do Estado nacional brasileiro. O Rio grande do sul era uma região que vivia quase que exclusivamente da criação do gado para a produção do valioso charque. A raiz da revolta está nos pesados tributos cobrados pelo governo regencial nos produtos da atividade pecuária, atingindo diretamente os fazendeiros sulistas, o aumento no imposto cobrado no sal vai ser a gota d’água na paciência dos gaúchos. Para acirrar ainda mais os ânimos o governo regencial permitiu a entrada de charque produzido na argentina e Uruguai no mercado Brasileiro com baixas tarifas impedindo que a carne gaúcha competisse em pé de igualdade. Também não se pode descartar a tradição de ideias republicanas características de uma região com forte presença de imigrantes, os abusos do poder central e a excessiva centralização do poder são as causas que levaram os gaúchos a lutar pela separação territorial. Sob a liderança do rico fazendeiro Bento Gonçalves os farroupilhas proclamaram em 1836 à República Rio-Grandense, inspirados no feito dos gaúchos, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro que também lideravam o movimento, em uma ação militar eles ocupam a cidade de laguna em Santa Catarina e proclamam a república Juliana no ano de 1838. A revolta só foi controlada em meados de 1845 já no segundo reinado, o levante de cunho separatista incomodava o imperador que temia pelo exemplo dos farroupilhas, e para evitar que novas revoltas simpatizassem com a causa dos gaúchos, D. Pedro II nomeia o prestigiado Caxias para acabar de uma vez por todas com o movimento. Após uma série de batalhas os farroupilhas depõem as armas mediante uma proposta de rendição honrosa por parte do governo imperial.

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